Fritjof Capra, físico e teórico de sistemas, cita inúmeras vezes em diversos livros [1,2], que somos interligados com tudo e a todos que estão ao nosso redor, podendo abranger o mundo inteiro. Assim, creio que uma pessoa apenas não possa mudar o mundo e também é de minha opinião que não devemos nos sacrificar para isso, no entanto algumas atitudes podem ser tomadas por nós mesmos para que não afetemos o mundo de maneira muito drástica, além disso não se deve esperar alguém fazer aquilo que queremos.
Reunindo estes conceitos a inspiração, um artigo sobre nossas atitudes no ramo do aquarismo ainda deve ser feito e este é apenas um texto imaturo, afinal utilizamos muitos recursos e dos quais não sabemos corretamente quanto se gasta do nosso planeta, dos nossos recursos. Então, o que fazer? Não consumir? Ficar sem trocar as lâmpadas de um plantado até ela se queimar e as nossas plantas começarem a morrer? Não trocar as mídias de filtragem? Ou pior, não realizar TPAs com medo que acabe a água no mundo?! Para todas estas perguntas a resposta é a mesma: Não, consumir é viver! E por isso é necessário. Claro que todo consumo deve ser realizado com consciência e de forma sustentável. Para saber se você é um consumidor consciente realize a pesquisa do site do Instituto Akatu [3].
Para que nosso aquário possua uma beleza exuberante é necessário consumir, dessa forma, antes de comprar procure saber se a empresa da qual está adquirindo um produto ou serviço se relaciona com o conceito de consumo consciente. Este conceito pode se resumir em um trecho retirado do site do Instituto Akatu:
“Em poucas palavras, é um consumo com consciência de seu impacto e voltado à sustentabilidade.
Todo consumo causa impacto (positivo ou negativo) na economia, nas relações sociais, na natureza e em você mesmo. Ao ter consciência desses impactos na hora de escolher o que comprar, de quem comprar e definir a maneira de usar e como descartar o que não serve mais, o consumidor pode buscar maximizar os impactos positivos e minimizar os negativos, desta forma contribuindo com seu poder de consumo para construir um mundo melhor. Isso é Consumo Consciente.
O consumidor consciente busca o equilíbrio entre a sua satisfação pessoal e a sustentabilidade, maximizando as conseqüências positivas deste ato não só para si mesmo, mas também para as relações sociais, a economia e a natureza. O consumidor consciente também busca disseminar o conceito e a prática do consumo consciente, fazendo com que pequenos gestos realizados por um número muito grande de pessoas promovam grandes transformações.”
Com este esclarecimento, devemos pesquisar sobre as medidas tomadas pelas empresas que nos fornecem produto e serviços. Não tenhamos medo de ligar no SAC e perguntar sobre as políticas e medidas adotadas que visam à sustentabilidade.
Outro aspecto mais importante são as nossas atitudes, dentro de nossa casa e dentro de nossos aquários, por isso vamos colocar os questionamentos primeiramente em nossas cabeças. O que fazemos para minimizar os impactos negativos na natureza?
Para se ter uma noção da quantidade de recursos utilizados para tratar água basta pegarmos o exemplo dado pelo jornalista, André Trigueiro, em seu livro [4] Mundo Sustentável, no qual diz que na cidade de São Paulo, 170 mil toneladas de produtos químicos são utilizados para tratar a água ao ano, entre eles o sulfato de alumínio, cal, cloro, algicida, flúor e outros, que se transformam em resíduo que irá poluir ainda mais o meio ambiente. Sendo assim, pense bem antes sair utilizando água sem escrúpulos, como lavar calçada ou asfalto.
Outra fonte de informação e educação é o site www.storyofstuff.com [5] que pode nos dar boas informações de onde vêm os produtos que sempre desejamos e nos faz questionar se tudo aquilo que queremos é aquilo que precisamos.
Assim, podemos juntar muitas idéias e observar o que pode ser feito para minimizar os impactos ambientais no ramo do aquarismo, neste texto irei apresentar alguns projetos e idéias interessantes.
O primeiro projeto que eu comecei foi o de criar um mudário, baseado no projeto do usuário daqui do Fórum Aquário [6] (FA), lescanjr [7], cujo resultado foi impressionante, mas o importante deste mudário [8] não foi somente a fonte eterna de plantas, mas também a reutilização das águas de TPAs vinda de nossos aquários com auxílio de fertilização líquida e solo fértil feito em copos de plástico e bonecas como as do Milton Ohta [9].
Entretanto, havia muita água ainda sendo perdida, pois uma hora precisa-se trocar parte da água do mudário, não contente resolvi reutilizar esta água perdida do mudário como rega de plantas e para umedecer uma composteira caseira. Esta composteira é interessante, pois utilizo dentro do meu apartamento e ainda não foi detectado odor desagradável, ela consiste em duas caixas de madeira forrada com feltro e sem tampa, para iniciar a compostagem deve-se ter uma caixa cheia de terra e a outra vazia, no meu caso a compostagem é feita por microorganismos e minhocas, estas servem para se alimentarem de restos de poda não aproveitáveis e restos de frutas. Para efetuar o processo, basta colocar o resto de poda ou colocar restos de frutas e cobrir com terra, de preferência com minhocas. É importante manter a composteira úmida e longe do sol para não ressecar a terra, podem ser utilizadas tampas desde que não impeça a movimentação de ar, pois toda compostagem gera gases, outro aspecto a ser lembrado é de não sobre carregar a composteira, pois dejetos orgânicos podem apodrecer e liberar cheiros muito desagradáveis, além de comprometer a biologia da composteira.
O interessante de ser ter uma composteira em um local com um aquário é que para se obter húmus de minhoca, basta peneirar o produto da compostagem e seguir com o tratamento de húmus descrito em diversos sites e fóruns sobre aquarismo, o resto que fica na peneira, o húmus já usado em aquários e o resto do tratamento do húmus pode voltar a composteira e/ou servir de substrato para plantas terrestres.
Quanto ao uso da água para rega de plantas podemos fazer sistemas de gotejamento para aumentar o rendimento do uso da água pelas plantas, não vou citar fontes, mas ao pesquisar na internet acham-se várias idéias, lembrando que esta prática só pode ser utilizada com plantas terrestres, embora não tenha testado com plantas aquáticas que podem ser emersas. O respeitado aquarista Rony Suzuki, utiliza a água do cultivo de suas plantas hidrófilas para regar as plantas da floricultura de sua irmã, uma TPA quase que constante, mas com o reuso da água de forma consciente [10].
Quando for adquirir produtos para o hardscape, procure se orientar com seu vendedor, seja em floricultura, lojas de paisagismo ou loja de aquarismo de confiança sobre a procedência de pedras e troncos e em via de dúvidas hesite em comprar, compre pedras e troncos de procedência confiável.
Outro aspecto importante sobre aquisição de produtos é se informar sobre os procedimentos de empresas em relação ao desenvolvimento sustentável e a política de meio ambiente. Por exemplo, a Philips é uma empresa cadastrada no Instituto Akatu e está aberta para comentários e perguntas sobre o consumo consciente. Assim ao adquirir um produto pense se ele pode ser reutilizável, como lâmpadas fluorescentes compactas que depois de 6-8 meses de uso ocorre o declínio de intensidade luminosa em determinados comprimentos de onda, o que pode prejudicar o desenvolvimento de plantas, porém pode ser muito bem reutilizado em iluminação em nossas residências. Caso seu aquário tenha muitas lâmpadas, não sinta vergonha em oferecer/vender as lâmpadas usadas para outras pessoas, mas nunca jogue fora uma lâmpada funcionando. A alternativa mais sensata é utilizar lâmpadas próprias para aquarismo, lâmpadas brancas, por exemplo, também podem ser reutilizada para iluminação doméstica. No caso das lâmpadas próprias para aquarismo, estas apresentam a vantagem que duram em média de 4 a 6 meses a mais que as lâmpadas normais, ou mais dependendo do tipo de lâmpada utilizada em seu aquário, isso permite a redução do número de lâmpadas utilizado em um determinado período de tempo.
Reduza, reutilize, recicle estes são os 3 R’s que devemos sempre ter em mente (nesta ordem), por exemplo um refil de filtro “hang on” pode ser reutilizado da seguinte maneira, recorte o perlon da peça plástica, tente retirá-lo o máximo possível e retire o carvão ativo que geralmente vem nesses refis, existem tópico em fóruns que são muito bons [11]. Substitua o carvão ativo que recheia o refil e com uma pistola de cola quente cole um pedaço de perlon ou costure-o e está pronto o refil. Alguns filtros vêm com uma espuma para a formação de colônia de bactérias estas você pode usar por muito mais tempo.
O perlon antigo pode ser utilizado para forrar fundo de vasos e jardineiras, pois eles ajudam a manter a terra úmida e dispensa o uso de pedras grandes no fundo para permitir drenagem. Quanto ao carvão usado pode ser colocado na composteira.
Finalmente, quando não for possível reduzir, reutilizar ou reaproveitar, recicle e contribua para que o mundo ainda tenha muitos anos de vida saudável pela frente, faça sua parte.
Abraços a todos,
Quem tiver dúvidas, criticas, sugestões e novas idéias, não deixe de contribuir, será tudo muito bem vindo, afinal tenho muito o que aprender ainda e espero continuar tendo.
Referências:
1 Capra, Fritjof; Conexões Ocultas, Ed. Cultrix, 2002;
2 Capra, Fritjof ; A Teia da Vida, Ed. Cultrix, 1996;
3 www.akatu.org.br (acessado em 09/06/2008);
4 Trigueiro, André; Mundo Sustentável, Ed. Globo, 2005;
5 www.storyofstuff.com (acessado em 10/06/2008);
6 www.forumaquario.com.br (acessado em 10/06/2008);
7 http://www.forumaquario.com.br/phpBB2/viewtopic.php?t=33250 (acessado em 10/06/2008);
8 http://www.forumaquario.com.br/phpBB2/viewtopic.php?t=34727 (acessado em 10/06/2008);
9 http://www.forumaquario.com.br/phpBB2/viewtopic.php?t=30779 (acessado em 10/06/2008);
10 Citado na palestra do dia 14/06/2008, realizada em Campinas pela loja Aquários Sol Nascente no Hotel Diplomata;
11 http://www.forumaquario.com.br/phpBB2/viewtopic.php?t=35633 (acessado em 18/06/2008);
